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Já nem sei mais.
Sempre em busca das respostas que, talvez, nunca terei.
Sempre sonhando com um mundo justo que [penso] jamais existirá.
Acreditando, vivendo, sofrendo.
Deixando um pouco de minha essência por onde passo.

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Mais um espaço criado, recriado e mantido.
Mais um lugar onde desafogar as mágoas de um viver insano.
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Ensejo Criativo





segunda-feira, outubro 10

Dona Esperança - parte III

Em certos dias ela não acordava bem.

Ainda assim era difícil, muito difícil, vê-la cabisbaixa, casmurra, ou mesmo apenas tristonha.
Dona Esperança fazia jus ao nome com o qual tivera o privilégio de ser batizada.

Curiosamente, nos dias em que não estava no esplendor de sua alegria é que Dona Esperança mostrava-se mais inspirada para derramar suas histórias. Algumas muito belas, outras um tantão sofridas.
Outras curiosas e algumas bem divertidas.
Aliás, é redundante dizer que o humor era parte essencial de sua personalidade. Mesmo vivendo do estritamente necessário, não se abatia.
Dava gosto ver o ar de felicidade e regozijo em seus olhos, tal qual criança apanhando doce de Cosme e Damião, quando lhe era oferecido o menor regalo. Pequenas prendas extraíam sorrisos, acompanhados de interjeições jubilosas e afáveis agradecimentos daquele rosto tão pouco vincado pelos longos anos que sua idade já contava.

Numa dessas manhãs incomuns, ao encontrá-la na cozinha, ensimesmada, dei-lhe um bom dia acanhado e pus-me, em silêncio, a preparar meu café. Não queria desrespeitar o recolhimento de seus pensamentos.
Entretanto, Dona Esperança chamou-me e começou a contar-me uma história de luta e de dor, de pranto e de riso, de amargosos dissabores e dulcíssimas alegrias. A história da sua vida.
Obviamente montei aqui um breve resumo, costurando trechos das diversas historietas que ouvi, como se estivesse a coser uma colcha feita de retalhos de vida.

Dona Esperança era paranaense de nascimento e criação.
Educada de maneira muito rígida por um pai rude, acostumou-se desde muito cedo a respeitar sobremaneira a figura masculina; sobretudo a paterna.
No meio de seus onze irmãos e irmãs, essa velha regra deixou de funcionar desde o dia em que um deles, rapazola imaturo, num ato imponderado, inventou para o pai que a moça atrasara-se na volta do colégio porque ficara namorando um mancebo na estação do trem.
Encolerizado, o severo pai deu uma surra com um cinturão de couro na jovem; sem jamais dar a ela oportunidade de se explicar. O irmão inconseqüente jamais pediu desculpas pela brincadeira de mau gosto.
Um dia, tempos depois do ocorrido, a jovem Esperança deparou-se com um sentimento até então desconhecido - o desejo de vingar-se.
Esperança praticava tiro, juntamente com duas irmãs e uma prima, sem o conhecimento dos pais. Sabia manejar uma arma de fogo com habilidade.
Acontece que seu irmão mais velho era militar e, tendo que se arrumar às pressas para um evento importante de última hora, deixou sua pistola no coldre, encima da cama. Esperança ao ver a arma não refletiu - tirou-a do coldre e mirou, pela janela, no irmão caluniador, que ria à farta com os amigos no quintal dos fundos da casa.

O som estrondoso do disparo, seguido dos berros e exclamações apavoradas dos presentes, fez com que Esperança corresse, corresse, corresse até sair da vida de seus familiares.
Conviveu com a idéia da morte do irmão por duas semanas, até voltar para casa e descobrir que não havia assassinado ninguém.
Soube, enfim do que aconteceu.

Foi uma fração de segundo que livrou da morte o irmão de Dona Esperança. Um dos amigos, vendo a moça preparar a mira, soltou um grito e empurrou o jovem difamador, salvando-o assim do tiro certeiro, destinado ao coração. Entretanto a bala acertara-lhe a perna, tornando-o manco para o resto de sua vida.
A bala não conseguira acertar o coração, mas o tiro disparado por sua própria irmã, sim. O irmão não morreu, mas os laços entre eles se romperam para sempre. Mesmo depois de 50 anos daquela fatídica tarde, o irmão jamais fora capaz de perdoá-la por tê-lo transformado num deficiente. Dona Esperança também não foi capaz de perdoar o irmão pela mentira contada, que feriu sua carne e sua moral.
E assim o irmão faleceu, sem reatar as relações sociais com a irmã.
Questionada pelos familiares acerca de seu comparecimento no velório, Dona esperança foi taxativa - "Ele não quis me ver em vida, não o obrigarei a aceitar minha presença depois de morto. Não vou."

E para mim, acrescentou - "Você acha que eu iria? Ele jamais me perdoou! E eu também, não o perdoei, nem o perdôo."

Disse isso com os olhos secos e foi cuidar da louça suja.


[conto livremente inspirado em fatos reais]

Delineado por mim às 9:30 AM

      




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sábado, julho 30

Dona Esperança - parte II

Ela estava quase sempre em casa.

Salvo às segundas-feiras (uma sim, outra não), dias em que tinha encontro de senhoras na igreja da qual era membro. E também saía para pagar as contas, fazer compras de supermercado, ir à feira. Não costumava fazer visitas sociais, nem precisava!
As pessoas sempre a procuravam, algumas vezes por meses a fio. E quando a encontravam, não queriam correr o risco de perder novamente o contato. Sendo assim, mantinham-se por perto.
Visitavam-na diariamente, incomum era o dia em que Dona Esperança não recebia uma pessoa amiga, previamente anunciada ou não. Especialmente nos horários das refeições. Fato corriqueiro era encontrar novos rostos à mesa do café e do almoço.
O dia favorito das visitas era domingo.

Dona Esperança sempre acordava mais cedo do que de costume aos domingos, para ter tempo de preparar grandes panelas de uma comida muito cheirosa para numerosos convivas.
Sentados à ruidosa mesa do almoço, relembravam fatos engraçados de um passado não muito distante, que garantiam ter sido bem mais feliz.
Normalmente, a conversa se estendia, atravessava a tarde e muitas foram as vezes que vi Dona Esperança arrumando o sofá para o pernoite de um ou mais visitantes.
Lembro vivamente de uma ocasião em que ninguém apareceu para o costumeiro almoço de domingo (que eu, de caçoada, chamava secretamente de "fila-bóia") .
A contrariedade de Dona Esperança azedou-lhe o semblante e o resto do dia. Enquanto guardava em diversos potes de tamanhos variados a comida preparada, resmungava:
"-Detesto fazer um monte de comida e não aparecer ninguém. É um desperdício, toda essa comida vai acabar estragando".
Depois de repetir por algumas vezes esse mote, sentou-se para assistir a programação vespertina, muito casmurra. Nesse dia recolheu-se mais cedo do que de costume.
Todavia, o habitual era o falatório, a casa povoada e alegre.

Infelizmente a casa cheia não conseguia tirar do íntimo de Dona Esperança certos sofrimentos.
Dores essas que ela deixava transparecer somente nos momentos em que, modorrenta, suspirava por cima do tricô ou do bordado; com o cenho carregado, momentaneamente embrutecido.
Também era comum encontrá-la sentada, quase catatônica, rememorando fatos que preferia esquecer. Quase nunca deixava de me contar o motivo do devaneio.
Dona Esperança tinha dois filhos biológicos que, malgrado seu, só lhe davam desgostos.

Um deles, já de meia-idade, passara a vida perseguindo ilusões, sonhos inalcançáveis. Era o que, comumente, as pessoas chamam de fracassado, um exemplo a não ser seguido.
Sem se dar conta disso, adorava jactar-se, fazendo-se importante. No entanto, não ajudava a mãe em nada e, como não tinha emprego, nem ajuda financeira podia prestar.
O outro, jovem ainda, abrigava o maldito vício da bebida. Não raro chegava em casa ébrio, trocando as pernas e as palavras, para total embaraço de Dona Esperança.
Este ainda trabalhava, mas empregava todos os ganhos em bebida e pândegas.
Dona Esperança sempre dizia que seu maior tormento era imaginar o que seria de seus filhos quando não mais estivesse presente para ampará-los.

Porém raras eram essas ocasiões em que se contristava. De um modo geral, tinha sempre um sorriso e uma palavra de ânimo nos lábios.

(conto livremente inspirado em fatos reais)

Delineado por mim às 1:45 AM

      




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segunda-feira, julho 11

Dona Esperança - parte I

A casa nunca estava vazia.

Fora sempre assim, em todas as casas onde Dona Esperança viveu.
Muito simpática, carismática, transbordante de sorrisos e alegria de viver; cativava a todos com sua simplicidade quase interiorana.
A vida a colocara em contato com as misérias humanas por tantas vezes, que Dona Esperança aprendeu a contornar quase todas as situações com tato e cautela, porém sem jamais abandonar sua natureza afável e doce.
Com um passado carregado de histórias e estórias, provenientes das diversas pensões que possuíra e administrara, Dona Esperança tinha sempre na ponta da língua um exemplo pronto para qualquer problema e situação. Por muitas vezes o exemplo trazia oculto, nas entrelinhas, também a solução. E ela jamais se escusava de fornecê-los.
Fartos eram seus dias, bem como suas lembranças.
Dona Esperança tinha 80 anos, intensamente vividos e meticulosamente registrados por sua invejável memória.

A muitos havia ajudado. Muitos lares desfeitos ajudara a restaurar, incontáveis órfãos se encarregara de alimentar, abrigar e, não raro, "adotar" informalmente; assumindo por vezes um fardo deveras pesado, porém desincumbindo-se sempre da maneira mais digna e admirável.
Por conta dessa característica ímpar, Dona Esperança estava sempre rodeada de pessoas gratas, cativadas por sua benevolência a toda prova.
É claro que alguns aproveitavam-se disso para tirar grandes vantagens encima da pobre senhora. Aliás, paupérrima.
A despeito de seu passado repleto de trabalho e dedicação, Dona Esperança não recebera da vida a paga material por seus esforços. Conheceu dias de pródiga fartura, desfrutou de posição social respeitada, adorava frisar. Contudo, tão generosa e desapegada, o que obtinha com o suor do seu trabalho acabava sempre indo para as mãos, barrigas e os bolsos sequiosos de amigos, parentes e agregados. Ainda assim garantia, aos sorrisos, que sua atual condição financeira não a incomodava.

Atualmente vivia em uma casa simples. Espaçosa, mas simples.
A mobília da moradia era resultado de muitos anos de mudanças, trocas, doações, consertos e remendos diversos. Um genuíno depósito de cacarecos, objetos desnecessários e estorvantes, que outrora tiveram seu lugar de destaque em outras vivências, outras residências.
Seus utensílios de cozinha não passavam de remanescências de antigas baixelas, talheres, copos, pratos; cada qual com sua cor e sua historieta particular.
Objetos pessoais Dona Esperança quase não possuía, salvo apenas artigos de higiene e alguns parcos itens de beleza, por assim dizer.
Tudo que era dela estava disponível, a qualquer momento, para quem quisesse.

Por conta desse desprendimento material, Dona Esperança se colocava em sérios apuros. Não raro fazia 'malabarismos' para que o dinheiro de sua aposentadoria conseguisse vencer a maratona dos dias do mês. Infelizmente, malgrado seu, os últimos dias dos meses vinham sagrando-se vencendores fazia algum tempo. Nada que tirasse seu bom humor ou que reduzisse o número de estômagos vazios, trazidos por rostos conhecidos, que lhe batiam à porta todo santo dia. Dona Esperança jamais deixava sem alimento um faminto que lhe procurasse, ainda que para isso fosse necessário dividir, ou mesmo abdicar de sua própria refeição.

Devido as dificuldades monetárias associadas ao velho hábito de partilhar seu teto, Dona Esperança pôs a disposição, para alugar, um dos quartos de sua residência.
Ali, por anuência do Destino, me instalei.

E foi dali que assisti o desenrolar destas experiências que narrarei, em três ou mais partes.

(Conto livremente inspirado em fatos reais)

Delineado por mim às 7:00 AM

      




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